Foto: Paloma
Daquela janela vi o mundo criança chegar
Era vasto, arco-íris, profusão de cores
Mundo pequeno, sapeca-mirim a gracejar
Texturas, molduras, cheio de olores
Daquela janela vi o mundo adolescente
Vestuário monocromático, trazia rebeldia
Cobria-lhe certo ar contestador, displicente
Sonhava com liberdade, irradiava alegria
Daquela janela o vi adulto se apresentar
Sorriso vermelho de maçãs maduras
Cabelo longo solto ao vento balançar
Altivo, intempestivo, sem amarguras
Daquela janela vi o mundo se afastando
A velha casa demolida pelo devir
Não pude ver sua velhice chegando
Cega fiquei, olhos breu, sem sentir
Daqueles olhos de um verde – esperança
Somente saudade, vestígio, lembrança
Dias claros em que viam o mundo a bailar
Quando sorria e me arrastava para dançar.