Ao meu avô Lourival Passos.
Compositor, cantor e poeta.
Com suas belas palavras e seus doces acordes compreendi a beleza da arte.
Legado imensurável que ainda ecoa em minha vida. Sempre.
Hoje o Passado veio me visitar!
Em um dos braços, violão exalando
cheiro de tempo felizes.
Acordes de Noel, Adoniran, Pixinguinha, Cartola
e tantos outros que ficaram guardados
nos dedos ágeis que balançavam suas cordas.
No outro, um cavaquinho que, inquieto,
gritava chorinhos clássicos.
O Passado tinha cheiro de abacate.
Gosto de boemia.
Na cabeça, chapéu de abas redondas.
Vestia terno de malandro.
Estava amanhecido de mais uma das tantas noites vividas nos cabarés
que extasiavam sua luxúria cantante.
O Passado tinha olhos verdes, límpidos como uma esmeralda.
Olhos de esperança que adoçavam meus sonhos pueris.
Cabelos grisalhos, resultado dos dias vividos intensamente entre a razão
e a perdição da embriagues.
Sua voz, reconhecida por mim até no mais profundo sono.
Seu beijo, tatuado na memória eterna das coisas que nunca morrem.
Ah! Passado feliz, arco-íris em festa.
De ti não tenho saudade.
Sinto é ausência.
Saudade é coisa que não se traz pro presente.
Ausência é o vazio deixado pelo que nos alenta o corpo e a alma.
Hoje o Passado veio me visitar
Chorei!
Sorri!
O Passado cantou, me abraçou,
embalou meus sonhos de criança
com sua voz brilhante.
Olhei pro lado. O violão, o cavaquinho.
Olhei pra dentro de mim. Teu rosto enrugado, fendas do tempo.
Ouvi tua voz que todos os dias
me levavam para um mundo de fantasia.
Mundo das histórias que contavas pra mim.