quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O que brota


Sei que me perdi em lindos olhos castanhos

Colados na face de alguém estranho

E pude ver o mundo cor de chocolate

Azul, vermelho, verde-abacate


Sei que deslizei em lindos sorrisos

Que me mostravam, no horizonte, paraísos

Recheados com som de amanhecer

Tudo isso sim, pude ver!


Sei que além de tudo existe

Algo a germinar e que resiste

Às intempéries dos dias vividos

Só porque vi aquele lindo sorriso


Sei, antes de tudo, que a boca de mel

Canta e encanta qual um menestrel

A sussurrar em meu ouvido todo seu escarcéu

E hei de ficar tonta, louca, ao léu


E se é pra ensandecer no turbilhão

Desse querer, que venha meu coração

Sem medo, disposto a tudo viver


Pois a vida só é merecida para quem se lança

Nas doses alucinantes dessa chama

Que brota, em nós, a cada amanhecer







Imagem: Florian Hoenig

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Tuas mãos


São mãos de carícias

: afagos aconchegantes

abraços calorosos


São mãos de fogo

: desejos indizíveis

luxúrias gritantes


São mãos úmidas

: ensopam o corpo

evaporam prazeres


São mãos enormes

: vastas como as planícies

vagas como os hiatos


[entre os dedos]


São mãos de tentação

: destilam essências

famintas, convidativas


São mãos que

roubam a sensatez

propagam vontades camufladas,

atiçam ébrios quereres.


São mãos, de perdição.







Imagem: Eugeny Kozhevnikov

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Alucinógeno


Era pra ser tomado a conta-gotas

mas quando vi

havia ingerido além da dose recomendada

de ti.

Agora essa overdose de olhos cor de mel

me faz ficar vendo céu

onde só existe fogo.

Inferno!



Imagem: Steffen Drache

sábado, 17 de novembro de 2007

Nostalgia



Mastigo minutos

lambendo feridas brotadas no tempo

em que te ausentaste de mim


Degusto a falta do azul de teus olhos

no céu claro que me ofusca


Cega na vastidão das nuvens

tenho miragens


Contemplo formas

: traços fugazes que se delineiam

ao passarem sobre minha ausência


Sou lacuna em mim

ao vislumbrar tua face

no brilho da lua cheia de tudo

vazia de anseios


E para castigar a nós


[eremitas do prazer]


devoro horas acres do agreste que me perfaz

e

busco na cisterna

aquele tudo que faltou


: teu corpo no meu





Imagem: photo.net

terça-feira, 13 de novembro de 2007

E agora?




Quando via a via

Que indicava teu acesso

Havia sempre um cruzamento

E me perdia.









Imagem:Giedrus Neturiauskas

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O que foi


Passado é sangue

coagulado nas crostas

fincadas na memória.





Imagem: Giedrius Neturiauskas


sábado, 10 de novembro de 2007

Disfarce



Saudade.

Dissimulada veste que encobre

A ausência.




Imagem: Rene Asmussen

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Hoje é dia de: ControVersos.
Um blog erótico.
Onde os prazeres são pensados e escritos em verso e prosa.
Eu estou lá.
Não perca.
É só clicar no nome.
Vem!



quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A Festa


Vesti-me de anseios

para bailar na festa

das bodas de ouro

de tua partida


Enfeitei os cabelos

com os trapos

que nunca vieste buscar


Untei a boca

[batom de fel]

seiva da saudade


Tudo para comemorar

as bodas de ouro

de tua partida


Não fui cinderela ou borralheira

: gata noturna a te caçar nas esquinas


Não eras príncipe nem algoz

: Aquele que tatuou meu corpo e fugiu


Adornei-me com teus resquícios

para não esquecer de comemorar

tua ida


[presença ausente]


que não mais almejo.






terça-feira, 6 de novembro de 2007

Do Amor


I


O amor se alimenta da fome.


Por isso te quero incompleto


: falta presente a nutrir meus dias,

presença ausente em noites insones,

lacuna constante no meu corpo.


Istmo que liga desejo e sabor,

suspiro suspenso.


Sequioso de tudo sem nada ter,

inconstância absoluta,

irrestrito querer.


O amor se alimenta da fome

só pra continuar a amar.


II


Saciado, perde o viço.

Completo, se anula.

Seguro, se ausenta.


O amor se alimenta da fome

de ser amor,

nada mais.



Imagem: photo.net

domingo, 4 de novembro de 2007

Cerração


É de pó a névoa que turva o olhar


: resto da ida tardia

rumo ao ocaso de teu amor.


É granulada a saudade que ficou

no sumir de tua manhã.



Imagem: Lori Crewe

sábado, 3 de novembro de 2007

Não vi os olhos teus




Não vi os olhos teus

No dia em que partiste

Sem me dizer adeus

Ou um lamento triste.


Havia de ser dia negro,

Sem luz. Aurora fugidia,

Ocaso sempre efêmero

De minhas parcas alegrias.


Crepúsculo de meus idílios!

Hoje, tu és canto sem melodia,

Loucos desejos perdidos.


E eu, mar em rebuliço, arredia.

Desde o dia em te foste,

Em busca de insanas fantasias.






Imagem: Katerina Lomonosov

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Hoje estou aqui: ControVersos. Um blog erótico. Que fala de amores e humores, que risca a alma com um fio de sangue, que faz estremecer , que trava a boca. Aberto à participação de quem traga no olhar maduro uma nesga de desejo, um respirar mais ofegante, um brilho mais úmido na palavra.Passa lá. É só clicar no nome. Você não vai se arrepender.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O que quero hoje


Hoje não vou falar das estradas

que me fazem perder o rumo,

nem das falésias onde aprumo

o salto pro fundo de mim.


Hoje não vou descrever curvas

ou retas que dedilham a

circunscrição dos espaços que

me habitam.


Hoje não reverbero desejos,

resplandeço volúpias

: fonte de inspiração.


Hoje não grito a mudez da ausência,

eco da saudade, sibilo constante

nas lapelas que absorvem a cor do mundo.

Nada de ode à lascívia ou luxúria.


Hoje quero poesia engajada, rabiscada

na cruel desigualdade em

que meus pares perecem.


Canto de revolta que denuncia

o furto do riso das crianças,

fome mísera que assola o povo.


Quero riscar no asfalto quente um F.


Assim, quem sabe, a fartura chegue

e o futuro se alegre ao contemplar

essa poeta que grita em versos

a vinda de um mundo melhor.





Imagem: Nuno Lobito