quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Auto-retrato




Do que escrevo:

resquícios do passado

quereres não realizados

saudade do que não foi.


No que escrevo:

verbo rasgado, tesão

fogo, paixão

intensidade assumida.


Como escrevo:

amargo na saliva

breu nos olhos verde-oliva

ar(dor) que fere.


Em tudo que escrevo:

alegria que irradia

metáforas, analogias

necessidade de falar.


Escrevo:

escancaro, abro

poema auto-retrato.




Imagem: Fernanda Passos


terça-feira, 30 de outubro de 2007

Aridez





Minha cisterna secou
Na estiagem prolongada
De tua ausência.


domingo, 28 de outubro de 2007

Andança


Os pés rachados na errante

procura por ti


[sedentos]


sugaram a seiva

do jardim de lembranças que plantei.


E as ilusões


[agora pó]


dissecadas nos ares

quentes de meu caminhar


[com o auxílio do vento]


disseminam o aroma das flores

que adornaram as quimeras

cultivadas em nós quando

recheávamos crepúsculos com

paixão e brindávamos a alvorada

nos copos moldados durante balé ensaiado

ao som do roçar de nossos cabelos.


Mumifiquei essa fantasia almejando

a umidade que


[um dia]


há de chegar com broto de sorriso e

semente de tua volta.


Nesse esperar dissoluto,

diluo o medo, decoro a alma com espelhos

que perpetuem imagens do tempo onde

o viço irradiava dos poros dilatados,

irrigando canais nos afluentes que interligavam

tua vontade e meu desejo.


Assim, espanto a desertificação que me assola

nos oásis idílicos que o reflexo faz germinar.



Imagem: Miguel Delgado e Silva

sábado, 27 de outubro de 2007

Volta(a mim)


Nas linhas de tua vastidão

rastros deixados no pó

da saudade de ontem


[quando estavas comigo]


A fuligem da distância impede que te veja


[mundo de anseios]


Por isso fostes

: descobrir ancas onde pudesses

adubar desejos enraizados na carne

germinar lascívia em outros corpos


Passa o tempo....


[retinas límpidas após

o breu que tua ausência deixou]


Parei no acostamento da certeza,

sentei no banco da coerência,

peguei carona com a lucidez.

Voltei para encontrar o que deixei

quando decidi te perseguir


: retornei a mim.



Imagem: Wojtek Aleksandrowicz

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Sexta é dia de Controversos.
E é lá que estou. Você vai perder?
Eu, se fosse você, não perderia por nada.
É só clicar no nome do Blog. Vem!

O Passista



Desatina no samba louco

feito pro teu gingar



Desafina no ritmo composto

pra ti ver bailar



Sou poeta ensandecida

nas passarelas de tuas curvas



Tu, estrada de desvario

pro destino de meus versos






Imagem: Piort Kowalik

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Metamorfoseada


Flagelo teu corpo

com os fios de meus cabelos

e amarro teus pulsos na língua

[de duas pontas]

que lanço em perigo


Serpente dissimulada,

pico essa carnadura

[alucinante]

destilando veneno

nos canais te rasgam


Paraliso teu querer

impedindo arroubos

ladrões de meu sono


Só de mau

chupo tua alma,

num beijo animal



Imagem: Giuliano S

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Eterno Retorno




Ilha de desejos carnais,

ponta sobre abismos abissais

alicerçada em vertigens.

Em ti morro, outros vivem.


Sinuosas são tuas curvas!

Viajo em noites de lua,

análogas à vastidão,

envolta no teu clarão.


Louca - puro desatino -

sigo esses caminhos.

Ressuscito pra te ver .


Nos grãos de tua carne,

tripudio da eternidade

e vivo, de solidão.





Foto: Glen Dealtry

sábado, 20 de outubro de 2007

Semeadura


Arranha minha pele com teu arado,

fecunda vontade


[ semente de aurora]


para que brote dia cintilante

e

possa ver tuas retinas refletindo

contorno lacerado


Com o alvorecer germinam crepúsculos

onde os olhos meus alcançarão teu corpo


: lua vindoura


Nas sendas do teu solo entrarei

para aconchegar esperanças


: cavernas dessas trilhas

que só desbravo quando te abres,

flor da madrugada


Cultivo brotos de tododia


Assim


[ na cotidianidade do tempo]


permanecemos a parir

– eu e tu –

deleites que alimentam

tempos de escassez


: ausência de nós,

em nós.


[...]


Passada a época seca, volta

rasura essa carne

enquanto planto no teu tudo

abundância de fertilidade,

matando a fome

que nos consome


: desejos.



Imagem: Nuno Abreu




sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Hoje estou aqui:

ControVersos. Passa Lá! É tudo de bom......

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Colombina (revisitada)


Ai de mim

rima perdida nas lágrimas líricas

que verti nesse

quase morto carnaval

em que um

lindo moço me consumiu

nos goles ébrios,

mastigados lentamente

no sorriso que lhe dei.











Imagem: Tatiana Monteiro

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Sou luz - no teu caminho


Sigo ébria no breu de teus olhos.

Não sentes o cheiro do álcool nas trilhas?

Erma

[na escuridão que te assola]

tateio o túnel que criaste para que não te encontrasse.

Sou bebida, desatino em carne, osso e insensatez.

Não esbarro nas esquinas de ti por que tenho visão infravermelha

de gata noturna que zanza zonza em teu corpo.

Estás sem saída.

Aceita o fato

: teu blecaute cabe bem na minha turbina etílica.

Luz de minhas retinas

: farol de milha no carro fantasma que diriges sem rumo

na estrada do adeus.

Se não abrigares minha potência à tua vastidão, morrerás de acidente automobilístico.

O caminho que escolheste tem fim.

Sou fronteira.

Nessa trajetória, a fumaça do motor

: vapor dos suspiros que exalo na saga em que me embrenhei.

Gasosa

[te cerco por todos os lados]

inebrio teus poros.

Meu limite

: tua finitude.

Se não aceitares que sou aurora de teu crepúsculo

e só os olhos meus te mostrarão o caminho de volta pra vida

[sem ida]

morrerás, porque embriagado de mim.

E de mim tu fugias.




Não deixe de passar no Controversos.





Peço desculpa aos amigos pelo meu sumiço - involuntário. Durante a semana vou retribuir as visitas e voltar a atualizar o blogue diariamente. Um abraços a todos que não deixaram de passar por aqui.





Imagem: Mariah

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Os versos que faço


Os versos que faço

germinam no limbo


: nascem verdes

como esperança


Os versos que faço

brotam do breu


: surgem brancos

ausência de sentir


Os versos que faço

expressam quereres


: aquarela que

tinge a inspiração


Os versos que faço

dizem tudo


: mostram nada

inspiração da

que escreve

os versos que faço.








Imagem: Raphael Lopez

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Quem dera.......


No fundo, mundo

cheio de avessos


No raso, enviesado

remendo de tudo


No meio, utopia

lugar nenhum


Ah!


Quem dera se na era

do meu começofim

o fundoraso


[que me virava do avesso]


tivesse mostrado


[no meio]


teu olhar enviesado


: mamba negra

curva em S

destilando veneno


[no meu mundo]


Mas eu era remendo,

tudonada







Imagem: Carla Salgueiro

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Fuligem


Trago teu suor,

ânsia viciada.


Saciada, te liberto


[decantado]


nas sugadas

que engoliram

teu ardor.


Nesse ciclo,

te faço gasoso

e lanço no mundo.


Carbono, fuligem,

gasto, imprestável.


Ponta que só acumula seiva,

vontade consumida


[em mim]


no cigarro que queimei


[tu].





IMAGEM: CHARALAMPOS MAVROMMATIS

sábado, 6 de outubro de 2007

Teu caminho(no meu corpo)


Sou íngreme, sabes

nos aladeirados

côncavos e convexos


[que me perfazem]


perdeste a lucidez


Minha geometria

: ângulos onde escondes

desejos para saciar luxúrias

gravadas nas entranhas de ti


Inclinada, te recebo liquefeito


no


núcleo do mundo


[meu umbigo]


e


sorvo a saliva

seiva que jorra

alimento meu


Trago teu querer


Sou


[mais que nunca]


: nômade nos espaços

não lineares

da

seara de quereres

germinados no adubo


: tua carne.



Imagem: Quark

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Densidade Poética




I


Sou densa - mercúrio

peso de anseios

carmim/visceral

passional/efêmera


Brisa a bailar

noturna/soturna

lua cheia de tudo

fase qualquer


Fractal ordenado

caótica massa

liquidez meu interior

que

: decantado

canta

a arte

na poesia

que brota

brota


II


E faço versos

enredos/descaminhos

desconexos/lógicos


na poesia

todo desordenado

ordenada desordem

mostra do sentir

absurdo/claro

ambíguo/metafórico


na poesia, amigo

só a verve


[que irradia na ponta da língua/fantasia]


transmutada em loucura/sã

no grito do poeta.











Controversos, vale conferir. Passa lá!




Imagem: Ana Rita Vaz Cruz