Hoje não vou falar das estradas
que me fazem perder o rumo,
nem das falésias onde aprumo
o salto pro fundo de mim.
Hoje não vou descrever curvas
ou retas que dedilham a
circunscrição dos espaços que
me habitam.
Hoje não reverbero desejos,
resplandeço volúpias
: fonte de inspiração.
Hoje não grito a mudez da ausência,
eco da saudade, sibilo constante
nas lapelas que absorvem a cor do mundo.
Nada de ode à lascívia ou luxúria.
Hoje quero poesia engajada, rabiscada
na cruel desigualdade em
que meus pares perecem.
Canto de revolta que denuncia
o furto do riso das crianças,
fome mísera que assola o povo.
Quero riscar no asfalto quente um F.
Assim, quem sabe, a fartura chegue
e o futuro se alegre ao contemplar
essa poeta que grita em versos
a vinda de um mundo melhor.
Imagem: Nuno Lobito
19 comentários:
Um beijo gde na enfim declarada versatilidade. Tendeu, né, neguinha?
Que coisa triste, né, minha querida?
Vejo crianças assim todos os dias.. e niguém faz nada.
Beijos
A rigor, um poema erótico pode ser perfeitamente político. E um poema político, quando bem feito (como o seu), é um poema político. Parece óbvio, mas não é. Em tempo: Tem uma surpresa pra você no Balaio. Beijos.
Um mundo bem melhor, com um certo jeito FERNANDA de ser..
Quero esse F gritante
Num asfalto feito de pó
Para, com passos, sacudirmos a poeira contaminada
de São José do Seridó.
Quanta beleza e sensibilidade, Fernanda.
Parabéns.
Beijo fantasma.
Dissipar pensamentos da mesmice...
Abrir os olhos para o real acontecimento....e, sentimento..
bjinhux Fer, bom findi cheio de Luz pra ti linda!!!!
Oi, linda: em sua 'andança' vi caminhos abertos, na 'aridez' de teus versos e no belo e fotográfico 'auto-retrato', onde luzes de um olhar azul-transparente gritam 'o que quero hoje' em um mundo faminto e desigual.
Beijos iguais...
Simpática Amiga Fernanda:
É linda, sabe?
Uma terna criança com fome e que a preocupa. Um sentir maravilhoso que a revolta e conquista com um terno sorriso muito belo.
As crianças puras merecem tudo e merecem-na.
Sabe, adorei!
Repito: É linda, com puros e sentidos pensamentos num versejar maravilhoso.
Uma poeta de eleição, acredite?
Do que melhor se encontra.
Como adoro lê-la!
Beijinhos amigos e de muita estima e consideração pelo que é e transmite com encanto.
pena
"Hoje quero poesia engajada, rabiscada
na cruel desigualdade em
que meus pares perecem."
Que essa poesia engajada se transforme na voz diária dos que persistem na determinação de não compactuar com tanta tristeza.
Lindo.
Beijos!
isso é um grito lá do fundo da alma
Poema que mostra a crueldade e um repúdio a ele.
Na veia? Tá brincando, nem que fosse apenas soro!
Ré ré... brincadeirinha de novo.
Da outra vez, fiz um comentário no Prosa na Veia, e atendendo ao seu convite, resolvi dar as caras por aqui.
Me lembro que você falou: "se não gostar, pode detonar". Ei, garota, seja mais cuidadosa, a hipocrisia ainda vai lhe matar. Detonar uma poesia dessas, não é! Técnica rebuscada, linguagem elegante, densa, e versos que parecem ter vida própria.
Olha, não conte nada pra Fernanda-Prosa-Na-Veia, mas eu acho que gostei mais desse espaço aqui. Você sabe como são as mulheres, às vezes podem ser terrivelmente possessivas.
Excelente trabalho, gostei mesmo!
Beijos e um ótimo fim de semana prolongado.
Quando ando pelo centra da cidade de SP, e vejo crianças neste estado me vem um repudio, algo de dentro que não consigo descrever bem, eu me sinto um lixo, penso afinal, quanto uma vida vale diante de tais cenas...
Linda poesia, embora o assunto seja de dificil beleza.
Beijoooooooooo
ESSA POETA É FODA!
AS SUAS POESIAS QUE EXPLODEM DE EUFORIA E IRONIA PARA CLAREAR NOSSAS MENTES.
Bjos querida e bom finde!!
Marcos Ster
Fernanda, seus poemas são Phodas! Compartilho da mesma necessidade, da mesma esperança. Quem sabe, um dia, deixemos de ser o que somos e passemos a ser o que deveríamos.
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Abraço forte!
Não poderia estar mais de acordo!
beijos, Kerubina
O mundo se faz de cego para a miséria e violência que ele próprio cria, e se faz de surdo para quem grita por humanidade na humanidade: o que ele quer é ser agarrado pelo pescoço...
Que a sua poesia não faça o jogo dele, e continue gritando que ele não é surdo, mas responsável pelo que faz, e sabe disso!
Beijo.
Aplaudo vc, arauto...
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