sábado, 29 de setembro de 2007

Urgência


Ame-me agora,

antes que a

lascívia/incoerência

coragem/instinto

ansiedade/encanto

Ilusão, nos abandone



Grita pra eu ouvir

palavras cravejadas/enlouquecidas

na cópula/carnal

indecente/animal

Que me quer.


quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Simetria


Desata

o nó de meus arredores

e

contorna esse espaço livremente


Enlaça

os fios de teus pêlos

em meus pulsos para que

eu

pulse em tuas mãos


Solta

o verbo na sofreguidão

alucinada

da pele contra pele


Encontro

simétrico entre

meu vazio

e

tua plenitude



Imagem: Marketa Uhlirova

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Autofagia


fome insana!

lava a escorrer

nas ancas

quando arrebentas

em mim

toda vastidão

que te perfaz


fome insana !

deleite obtido nas

contrações involuntárias

causadas por teu chegar

p

r

o

f

u

n

d

o

no ventre

que te aconchega


fome insana!

mendiga a gota de teu suor

para matar a sede da carne

ressecada em tua ausência


fome insana!

desvairada

não farta pelo alimento

que tu és,

acabou comendo a si mesma.


Ataque autofágico!



imagem: josé mianutti

domingo, 23 de setembro de 2007

Confesso


Recomeço antes do fim.

Estendo os passos na ânsia de voltar para seguir
Alugo carros velozes e desatino na estrada
sinuosa que é meu caminho
Crio atalhos onde só existem espinhos

Reflito para não ficar
retida na alienação de só gostar
daquilo que ao meu alcance está
Almejo tudo que hei de encontrar

Nado por rios densos, sem pontes
Convido eu mesma a atravessar
Indago ao pensamento como querer
não só o que se tem, mas o que se pode obter

Zênite é meu objetivo!

Quero ir além do que vivo
Altas braçadas no mundo, largas pernadas na vida
Surjo das cinzas e sempre hei de voltar

Fênix, a contemplar.




Imagem: Helena Margarida Pires de Sousa

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

.




I

Na textura do tempo,

meu

ser no mundo.

Tecido velho,

fiapos da vida.

Recortes

na tessitura

incessante do devir.

Venho

de longe,

das encostas da memória.

Sorvo

tudo que alcanço.

Verto

[retocados]

traços engolidos

e

renasço de tudo que fui,

sou,

hei de ser.

Assim

me encontro,

me perco.

Mas

[sempre]

retorno

ao ponto.


II


O ponto

não é somente um ponto.

O ponto

é uma incógnita.

Pode ser o final,

o começo.

[Quiçá um recomeço!]

O ponto

é o talvez,

possibilidade

de novas portas,

velhos encontros.

O ponto

: um ignoto.

Preciso desvendar

o significante

que ele trás.

O ponto,

que me perfaz.



Imagem: Kadir Barcin

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Descanso


Sei que em ti habita um mundo,

campo de flores, rios de esperanças.

Divago pelos bosques de tuas curvas,

repouso na montanha de teu peito.

Relaxo nas sombras que teus cabelos nutrem,

adormeço no conforto de teu corpo.

Transito por ti como quem nada quer...

Alento ilusões nas chamas de teu olhar.

Mato minha fome na carne que te reveste,

meu bem-querer.





Imagem: Carmel Skutelsky

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Eumar


Sou mais que o balançar das ondas:

redemoinho de quimeras.


Pescadora perdida nos rios de anseios,

embarcação desgovernada a saltitar,

insana maré a escoar.


Mergulho dentro de mim,

nunca encontro meu fim.


E nesse eterno buscar,

ainda hei de achar

tatuada na pele

a presença que fere.


Tento não afundar...


Um cais para aportar!


Mas alusão com o mar,

não deixa eu me achar.



Imagem: Andrew P. Grant

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Concretude


Persisto em obliterar

opúsculos que guardam

reminiscências indesejáveis

tragadas ao longo

da lida diária


Construo frases de efeito

com poderes bélicos

de destroçar o que fere

a retina

porque absorve

sensações corpóreas

e

desafio a metafísica

da alma insana

pregada ao eterno

dissabor de não ser


Sou mundo concreto,

existência bruta


Germino nos dias vividos.

sábado, 15 de setembro de 2007

A(pê)lo


No fogo de tua carne

brasas de meu querer.


Cobiço ir além da tua pele

: entrar em teus poros,

inalar teu suor,

engasgar na tua glande.


Abrir meu mundo,

deixar você entrar.


Penetra!


Vem...


Escancara as portas!


Desvenda-me...


Veda-me a outras tentações

que não a de teus apelos.


Teus pêlos.



Imagem: Andi Todea

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Na escuridão...



no escuro

: vejo


instintos

qualidades



no escuro



discernimento

caminhos a trilhar



no escuro



teus olhos

: faróis de milha



clareiam minha boca

pra

contar meus anseios



no escuro



te encontro em mim

e

tu te perdes


ao

me encontrar.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Súplica


Guia-me por entre as relvas,

pois

em teu corpo germinam



Meu desejo se alimenta

na

seiva que brota do tronco

de

tuas pernas

e

sacio a sede

que

me consome

em

teus pêlos

ou

sugo o néctar

das

tuas reentrâncias



Sufoca meus gemidos

com o

peso de tua carne



Arqueia meu quadril

num

espasmo de luxúria



Imagem: Daniel Operacz

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Poesia Cíclica


Foto: Rusli Effendy



Sou caule de raízes profundas que tocam o umbigo do mundo e se liquidificam

Tronco robusto na superfície irregular

Cresci torta como as árvores do cerrado

Os galhos de meu corpo, dimensões imensuráveis

Em suas pontas, olhos que vêem o mundo sob ângulos diferentes

Por isso sou múltipla como as pétalas que em mim brotam na primavera

Fruta suculenta que no verão enche de cheiro e sabor os desejos intocados

Néctar adocicado a escorrer nas bocas sedentas que abocanham meus fiapos

Tenho raízes que tocam o umbigo do mundo

Sou líquida por dentro, crosta por fora

Um rio de anseios com margens porosas

Absorvo as estações, o ciclo da vida

A vida cíclica no umbigo do mundo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Nada Sei


Nada sei do mar que arrasta meus deslizes e arroubos.

Sei apenas que voltam como as ondas.

Sempre em garrafas que guardam memórias ocultas.

Nada sei do mar que nivela meus anseios,

assim como a maré que seca uma parte de mim

e inunda a outra com fragmentos de ilusões.

Nada sei do mar que habita meu interior,

transformando fendas rasas em abismos abissais.

Nada sei do mar que me perfaz.

Mas sei que em mim mora a nascente das lágrimas vertidas

pelas causas vãs que, inutilmente, quis alcançar.

Dentro de mim o mar...

Embarco no vai e vem das contradições que sustentam meu existir.

Salinidade que fere a língua da vida, mas que insiste em ser mar.

Vida vaga como as vagas que surgem entre as ondas.

Vida longa, breve e líquida como o mar.

Mas que jamais seca.

Nunca me deixa no deserto de não me saber existindo.

Eu, transbordante.

domingo, 9 de setembro de 2007

Ainda resta algo


Ainda que na canção
reste apenas uma gota de alegria,
verei teu rosto.
Nada atravessa mais minha loucura,
me rasga o desejo que as
noites insones que sonhei contigo.
Mesmo que o badalar do sino seja triste,
resquícios de mim e de ti ouvirei nele.
Retalhos de uma noite com luar,
anjos vermelhos a nos provocar.
Velhos sonhos, novos dias, antigas melodias
e sempre eu aqui, querendo dedilhar os versos
líricos de um amor que não se diz,

porque não quer.

sábado, 8 de setembro de 2007

Ode ao meu lugar


Foto: Nelson Magela


Passo por becos seculares

abrigos de muitos ares

segredos guardados

nunca revelados



Janelas com vitrais

coloridos artificiais

telhados quebrados

mirantes alternados



Centro de séculos

lugar de botecos

noites agitadas

pessoas descoladas



Reviver é pra amar

tem reggae pra regar

a vida é uma festa

e muita conversa



Tem a praça da Faustina

bar do Porto na esquina

gente que sai torta

São Luís, maravilhosa.



*Uma singela Homenagem aos 395 anos de São Luís, cidade onde nasci, cresci e aprendi. Nessa poesia falo do Centro histórico, mais precisamente do Reviver. Lugar eclético. Reúne artistas, universitários, gente que nunca estudou, quem não é artista. Enfim, um lugar democrático, daqueles "porretas".

UM CERTIFICADO PARA O POESIA NA VEIA

O meu caríssimo Moacy Cirne do Balaio Porreta 1986, concedeu um Certificado Blog para o Poesia na Veia. E agora é preciso indicar cinco blogues que o mereçam. Tarefa árdua essa, já que vamos criando relações estreitas com vários blogs através de nosso "caminhar" pelo mundo virtual. Mesmo assim, sem desmerecer os demais, claro, apontamos cinco que, de acordo com o estabelecido, nomearão mais cinco. E assim por diante. E assim por diante.
Eis os cinco:
A Cor da Letra, de Ricardo Rayol
Prosa Eletrônica,, de Adão Flehr
Sétima Letra, de Ro Druhens
Um Blog Amador, de Priscilla Pontes
Oncontô?, de Erika Murari Machado

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Brasil


Foto: Diego Janatã





Povo fragueiro
de tantas lidas.

Tuas terras férteis
despertam desejos

de gente soberba,
grandes cartéis.
Querem Amazônia
e Alcântara.

Tuas águas,
teus minérios.

Se apoderam
de teus mistérios.



Essa poesia foi publicada em 2002 pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, no 16° volume do Painel Brasileiro de Jovens Talentos. Hoje, dia da Independência, minha crítica à cruel dependência e assédio, por parte dos "grandes", que ainda nos assola.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Fragmentos de Mim


Foto: Gonçalo Simões



Junto os cacos de mim

arquiteto um semblante

Junto cacos de mim

construo uma persona

Junto os cacos de mim

edifico esperanças

Junto os cacos de mim

dilacero o que era ontem

Junto os cacos de mim

moldo o que quero ser

Junto os cacos de mim

E no anseio de me reconstruir

me descubro como era antes.

Juntos os cacos de mim

Compreendo que esses fragmentos

são partes do que sempre fui.

Do que poderei ser.

Não posso me moldar.

Juntos os cacos de mim.

Eu, assim.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Deixa...


Foto: Ana Rita Vaz Cruz



gozo gozo gozo

tara de mais querer

querer de mais tesão

tesão de mais viver

viver de te lamber

lamber teu dedão

ah!!

não?!

deixa!

a gueixa quer você

lamber querer viver

tesão dedão gozo

deixa?

depois não se queixa.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Sem Poética


Foto: Alfredo Leite



língua seca muda áspera lambe rosto mundo obtuso absurdo redondo caduco velho arqueado tempo dissoluto luto morte luto mundo melhor dia cansado vindouro dourado botas rasgadas rastros traçados história injusta povo sofrido ardido fome desgraça corrupção alienação alienígenas óbito inanição crianças mortas sorrisos roubados futuro nublado nada amor dor temor classes hierarquia almas maiores menores gente gozando dinheiro sujo comendo vento estômago ardendo língua seca áspera muda lambe rosto mundo absurdo imundo inumano voz grita esperança ação canção luta mundo melhor corrupção passado futuro claro mundo nós gente igual adeus classe social

domingo, 2 de setembro de 2007

Cantos de Ilusão


Foto: Fred Appleyard




Náiades e Sereias visitam

a ilusão que criaste pra ti mesmo.

Seus cantos e encantos te fazem

navegar em mares de desejos vãos.

Untam teu corpo com a seiva do pecado.

Vertigens te perseguem e zonzo estás.

Entre tantos cantos,

quantos nunca tu encontraste?

Quantas secas saudades te beijaram a face?

Emaranharam-se nos teus cabelos?

Almejas sereias e perdes o rumo.

Louco, perdido em seus encantos.

Enquanto isso, Eu, que sou real,

manipulo tua loucura

com meus poemas.

sábado, 1 de setembro de 2007

O Desejo



O desejo essa luxúria

Ensejo de mais querer

Loucura que não sacia

Fogo que faz arder


O desejo troço louco

Clamor por mais tesão

Mesmo que seja pouco

Aniquila a razão


O desejo coisa insana

Corta a pele de quem ama

Tira os pés do chão


O desejo essa chama

Bota fogo na cama

Vulcão em erupção