domingo, 26 de agosto de 2007

Mar Revolto


Foto: André Viegas





Sou mar bravio que esbarra nas falésias construídas por eu mesma

no intuito de frear os arroubos que dilaceram meus limites.

Nessa ânsia frenética por movimento,

misturo minha liquidez ao barro vermelho de meu contorno e sangro.

Mesmo ferida pelo revés,

não deixo de traçar trajetórias oblíquas

que desviem os traços que criei para mim.

Vago por continentes e descubro istmos que ligam

o vão de minhas tristezas à crista das esperanças que nunca abandono.

Afogo-me nos abismos das ilusões e renasço nas ilhas de quimeras.

Sou mar bravio e no constante fluir, separo minhas partes.

Monto um mosaico de eu mesma.

Construo, reconstruo, limito meu espaço, sangro, cicatrizo.

Nunca cedo à tentação de não sentir.

Jamais abandono a perspectiva de ir e vir.

20 comentários:

Moacy Cirne disse...

Um mar bravio pode amedrontar muita gente. E as ânsias frenéticas podem ser mal interpretadas. Mas o que seria da poesia se os mares e as ânsias não alimentassem a nossa imaginação e as nossas vivências eventualmente mais dolorosas? O que seria de todos nós se não tivéssemos a capacidade de construir e reconstruir nossos espaços entre esperanças e abismos ilusórios. Beijos.

Anônimo disse...

O mar pode ser lindo e cruel ao mesmo tempo...

Mas é lindo... lindo...

Beijo

Natália Nunes disse...

Eu gosto muito de metáforas com mar, com águas (acho q dá pra notar pelo blog, neh? rs).

A idéia do "devir" me angustia e excita, e nessa dicotomia me encontro viva, amplamente viva.

Bjo!

Bartolomeu Barros Jr. disse...

valeu pelas palavras! estarei por esses mares agora. bjs

Anônimo disse...

Um bonito poema, Fernanda. Você soube conciliar os seus sentimentos com um mar revolto. Versos inspirados como aquele "não cedo à tentação de não sentir". E ainda tem a bela foto. Um beijo e uma semana de grande inspiração.

david santos disse...

Olá, Fernanda!
Os mar tem ambas as facetas: beleza e crueldade. Mas é sempre uma das coisas do Planeta que mais admiramos.
Parabéns.

Johnn. disse...

huuuuuuum...

gostei do texto!

Ricardo Rayol disse...

Rasga a alma essas letras.

benechaves disse...

Oi, Fernanda: bonito o teu texto. "Afogo-me nos abismos das ilusões..." é um exemplo de uma prosa-poética forte e sempre a revelar novas formas e fórmulas.

Um beijo não ilusório...

Anônimo disse...

"Jamais abandono a perspectiva de ir e vir."

Isso é realmente o que importa.
Bjão!

Natália Nunes disse...

Fernanda, eu não deixaria de visitar meus vizinhos de blog com essa invenção de respondê-los no meu blog. Não mesmo.

Pq não comento nos blog buscando reciprocidade, comento pq quero, pq os textos merecem.

Incluindo os seus.
:D

Bjão!

Pripa Pontes disse...

mas versos maravilhosos...
esse mar revolto que nos forma.
que nos representa.
que nos encanta.
que nos assusta.

Tem prêmio p você lá no blog amador!

Passa por lá.
Bjos.

Anônimo disse...

Engraçado que eu digo pros meus filhos que nunca se dá as costas para o mar....

=)

Ro Druhens disse...

Maré, mar é...beijo deslumbrado

Anônimo disse...

Sábio Dorival assinalou com paradoxal ironia que morrer no mar bem doce seria...

E eu, se tiver que escolher um lugar pra morrer, que lugar entre lugares eu iria escolher?

Os versos não me marearam. Me transportaram a um filme emblemático chamado "limite", que me imergiu em uma experiência estética ainda sem par na minha já não tão breve existência. Mar pra mim é arquétipo de transcendência. E transcendência é energia vital, força criadora, matriz geracional, gênese da tranaformação, necessidade imperativa de todo ser. Todo mundo carrega o mar e o demônio dentro de si.

Obrigado pela lembrança que me trouxestes. Aqui vai um link do trabalho que fiz no longínquo ano de 1996, na faculdade de cinema da UFF, sobre o filme "Limite", de Mário Peixoto:

http://br.geocities.com/sombraseletricas/2olhivre8.htm

Mary López Gabaldón disse...

hola, mi nombre es maria vivo en espña me a gustado mucho tu blog,si te petece puedes ver el mio y opinar y decir lo que queras.
un saludo enorme
mery

Osc@r Luiz disse...

Que os bons ventos sempre soprem as suas ondas na minha direção.
Lindo!
Um beijo!

Jens disse...

Maravilha, Fernanda. Os últimos seis versos são puro encanto, desafio e sabedoria.

Vais disse...

Olá Fernanda,
saudações, apesar de não fazer comentários, vira e mexe apareço por aqui, mas olha que esse poema seu tocou lá no fundo, de profundo e sincero que senti, a fotografia então, nem se fala, e não é de hoje que tem esses mistérios e encantamentos relacionados ao mar. Destaco esse pedacinho
"Vago por continentes e descubro istmos que ligam o vão de minhas tristezas à crista das esperanças que nunca abandono".
Parabéns!
Abraço.

Anônimo disse...

Boa noite Fernanda,
Estou em busca de "poetas do mar"
para publicá-los no meu cantinho
"Mardemarcelle", um blog do live que por enquanto ainda não abri ao público pq ainda n está pronto. Preciso de um texto lindo e emocionante como este seu que amei e cujos últimos versos nos tansportam e redime:

"Afogo-me nos abismos das ilusões e renasço nas ilhas de quimeras.

Sou mar bravio e no constante fluir, separo minhas partes.

Monto um mosaico de eu mesma.

Construo, reconstruo, limito meu espaço, sangro, cicatrizo.

Nunca cedo à tentação de não sentir.

Jamais abandono a perspectiva de ir e vir. "

Amei D+++++++ menina poeta.
Se me permitir trazê-lo ao meu spaces ficarei imensamente grata.
Com carinho, Marcelle