quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Poema Melancólico


Foto: Paloma



Silenciosamente vago por bosques desérticos, onde árvores da saudade sussurram melancolias à flor da pele.

Passo por secos regatos banhados com lágrimas de fel e mergulho nas areias rubras de suas margens.

Uma ninfa toca a harpa que antes foi motivo de lúdicas canções, doces acordes.

Sacio a fome no vento macio que me acaricia a pele.

Quisera eu ser saciada pelas quimeras que moram num lugar não lembrado pelo tempo.

Matar a sede, me deliciar com o suor que evapora das palavras ardidas que cultivo nos pensamentos mais obscuros.

O bosque desértico pelo qual passeio é o lugar do esquecimento.

Rasuras e reminiscências do intenso querer não querido.

Rebuscada morada de idílios vãos, utopias depreciadas e insignificantes lamúrias.

Casa das dunas nômades que representam e se assemelham às idas e vindas infindas que a sorte nos ensina.

Moro aqui, nas sombras que me rodeiam.

Sorrio para os espectros que me circundam.


11 comentários:

david santos disse...

Obrigado, Fernanda!
O teu trabalho é um hino ao sentimento real.
Parabéns! Muitos parabéns.

David Santos

Wanderson "Wans" disse...

Moça...se eu não estivesse num dia muito agitado hoje, ficaria no meu cantinho só lendo este poema ao som do Radiohead.


Realmente você tem poesia na veia.

Anônimo disse...

"Moro aqui, nas sombras que me rodeiam..."

Muito bom, gosto da melancolia.. me faz sentir vivo, pensante.

Bina Goldrajch disse...

Também ando num momento um pouco melancólico, mas estou tentando, e talvez até conseguindo, transformar minha tristeza numa alegria infindável.

Bonito poema. Mas não se deixe levar realmente por essa melancolia.

Beijos!

pn disse...

Lembras-me uma passagem de "Eurico, o Presbítero", de A. Herculano, séc. VIII, na Cartéia, quando Eurico chora amargamente sua dor, à natureza cúmplice, repelido por Hermengarda...

pn disse...

Sim, "cuspo" está lá concretamente como efeito lexical assíntono, que fere pela vulgaridade...

Marcelo disse...

Simplsmente perfeito e com um belíssimo ritmo.
Doces palavras melancólicas.
É sempre bom nos ensimesmarmos ás vezes =)

Beijos, menininha.

Moacy Cirne disse...

Prosa poética/romantismo/vento macio/melancolia = Poesia. Um beijo.

Assis de Mello disse...

Poeta Linda,
Você está mesmo surpreendente.
Já parou pra pensar na força desses imagens ?:
*
Rebuscada morada de idílios vãos, utopias depreciadas e insignificantes lamúrias.
*
Casa das dunas nômades que representam e se assemelham às idas e vindas infindas que a sorte nos ensina.
*
Acho que não sobrou pra mais ninguém.
Casa comigo ?
Beijão,
Chico

Anônimo disse...

Fernanda,



"melancolias à flor da pele", pelo quê será serão fecundadas?


Belíssimo, o teu poema!


Abraços, flores, estrelas..


.

Marcos Seiter disse...

Bah,Guria,maravilha de poesia.

O esquecimento,eis a questão.
(lembrei da frase de Shakespeare).

Eu não consigo esquecer de nenhum detalhe daquela aventura que vivi e que vivo em minhas lembranças.

Esquecer ninguém esquece. Num canto qualquer a memória tratou de preservá-la para justamente tu não esquecer.

Bjos e um abraço!

Marcos Ster